Aquisição da Linguagem Infantil

(A Incrível Jornada da Linguagem)

O desenvolvimento dos nossos filhos é sempre um assunto que nos causa muita preocupação. Perguntas como: o meu filho está atrasado na fala? “Ele já tem tantos meses e ainda”… Quando devo procurar ajuda de um profissional?

Se você aí, do outro lado da tela, estiver a passar por esses questionamentos, hoje vamos falar sobre a aquisição da linguagem, deixando para os leitores um guia para orientação, ressaltando que não se trata de um diagnóstico, cada criança é única e pode ter necessidades diferentes. No entanto, esse guia traz etapas ou idade padrão da evolução da linguagem.

Antes de começarmos de fato a nossa leitura vamos compreender o que é a língua e a linguagem.

“Linguagem é toda forma que o ser humano usa para se comunicar.”

“É um sistema de comunicação natural ou artificial” (FERNANDES, 2003, p. 01).

Língua: “É um sistema abstrato de regras gramaticais”. (FERNANDES, 2003, p. 02).

A aquisição da linguagem é o processo pelo qual a criança aprende a sua língua de origem.

Podemos afirmar que a aquisição da primeira língua (língua materna) é a maior façanha, de um processo individual, que podemos realizar durante toda a vida.

Cupello (1993, p. 7) Afirma que. “Todo ser humano já nasce com a necessidade de aprender uma língua, para poder se comunicar com o mundo.” Para Borges e Salomão (2003), a primeira forma de socialização da criança é a linguagem, e são geralmente os pais, por meio da fala durante o manuseio com o bebê, que efetuam esta interação. Por intermédio da linguagem, a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores, crenças e regras, adquirindo os conhecimentos da sua cultura. Conforme a criança se desenvolve, a visão e audição, e os outros órgãos do sentido, também se desenvolvem, ficando mais refinados. Dessa forma, a criança alcança um nível linguístico e cognitivo mais elevado, desenvolvendo cada vez mais os seus códigos de linguagem. A aquisição da linguagem é um trajeto longo e difícil, embora ocorra naturalmente.  Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar-se com os outros. O choro já é uma manifestação de tentativa de se comunicar; no início é indiferenciado e a partir da segunda/terceira semana, ganha características de diferenciação.

No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser reconhecidas: a pré-linguística, em que são vocalizados apenas sons isolados (sem palavras) e que persiste até 11 e 12 meses. A fase linguística, quando a criança começa a falar palavras isoladas com compreensão. Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e sequencial com sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento.

Piaget divide o desenvolvimento em quatro estágios ou períodos: sensóriomotor (0 – 2 anos); pré-operatório (2 – 7,8 anos); operatório-concreto (8 – 11 anos) e operatório-formal (8 – 14 anos)

Período sensório-motor (0 – 2 anos): caracteriza-se pela inteligência sensório-motora.

O bebê, partindo de simples reflexos, consegue construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio, chega progressivamente a uma organização coerente de perceções sucessivas e movimentos que lhe permitem uma interação com os objetos reais do seu meio imediato: inicialmente, as condutas sensório motoras dirigem-se ao próprio corpo (sucção, audição, visão, etc.), orientando-se, em seguida, aos objetos externos.

Período pré-operacional (2 – 7 anos): nesta fase surge a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação – função simbólica.

A criança deste estágio: É egocêntrica, centrada em si, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro; Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos “por quês.”)

Período das operações concretas (7 – 12 anos): é o estágio em que a criança desenvolve as noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, sendo, então, capaz de relacionar diferentes aspetos e abstrair dados da realidade.

Período das operações formais (dos 12 anos em diante): as estruturas cognitivas da criança alcançam o seu nível mais elevado de desenvolvimento. A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação imediata e nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções.  Vale afirmar que os primeiros dois anos de vida são cruciais para o desenvolvimento da linguagem.  Neste período, a criança passa por um “treino” articulatório por meio do choro, sons guturais, balbucio; é uma aprendizagem linguística.

Tabela base de aquisição e desenvolvimento.

Idade/O que faz

0-2 semanas

Choro indiferenciado, não há intenção, nem consciência.

2-3 semanas

O choro ganha características de diferenciação, dependendo do estímulo que a criança está exposta.

1 mês

Sons de “gargarejo” começam a se incorporar na “fala” do bebê.

2-4 meses

Começam os sons vocálicos.

4-5 meses

Os bebês já têm percepção de ritmo, entoação, duração e frequência dos sons

5 meses

Começa a aparecer sequências de vogais e consoantes, geralmente sons velares.

6 meses

Começam a imitar os sons que ouvem; as vocalizações começam a adquirir algumas características de linguagem propriamente dita: aparecem entoações, ritmo e tons diferentes; emite sons guturais com um /r/ bem prolongado em resposta ao rosto da mãe quando esta se coloca bem à sua frente; começa o balbucio (/da/-/ba/-/ka/), aprende logo a reproduzir esses sons; vocaliza também uma grande variedade de vogais; reage à voz humana a 40db e reconhece a voz da mãe.

9 meses

Repetições passam a ser mais intencionais; as sílabas ficam mais complexas; podem surgir palavras significativas; nessa idade reage a sons familiares e responde a limiares cada vez mais baixos.

10 meses

Dá-se conta do valor comunicativo do seu comportamento e aprende a controlar isso; Início da imagem mental da representação do meio ambiente; Surge primeira palavra intencional;

11 meses

Começa a fase pré-conversação; vocaliza mais durante os intervalos quando é deixada livre pelo adulto; procura espaçar e encurtar as vocalizações para dar lugar às respostas do adulto.

12 meses

Inicia o uso convencional da linguagem – as crianças falam normalmente as primeiras palavras reconhecíveis pelos adultos; A compreensão ainda é maior que a expressão.

Entre 12 e 18 meses

Há um rápido aumento da compreensão e da expressão; repertório de aproximadamente 50 palavras, usadas de forma isolada; ainda apresenta sons sem sentido; compreende algumas palavras familiares, por exemplo: mamãe, papai, neném; as vocalizações são mais precisas e melhor controladas quanto à altura tonal e a intensidade. Agrupa sons e sílabas repetidas à vontade; por volta dos 15 a 18 meses o vocabulário aumenta muito e começa a nomear as coisas.

Próximo dos 18 meses

Podem falar um número razoável de palavras; ocorre aumento do vocabulário.

Entre 16 e 19 meses

Ocorrem nas crianças grandes mudanças nas habilidades conversacionais; começam a compreender que tem necessidade de responder com fala a fala do outro; fazem perguntas, compreendem o que lhes é dito; tomam parte de uma troca linguística entre duas pessoas; surgem frases de dois ou três elementos; existe um período transacional no qual as sequências de uma só palavra começam a aparecer reunidas, mas sem ocorrência prosódica que caracteriza uma oração. Exemplo: “papai aqui”, “mais água”, etc. Começam a aparecer às primeiras flexões (plural); as orações negativas são utilizadas por meio do não isolado ou colocado no final; por exemplo: “dormir não”; as interrogativas: “quê?” e “onde?” são as mais primitivas. Verbaliza as necessidades; compreende certas ordens.

24-30 meses

Falam em torno de 200 palavras, emitem frases simples; aparição de frases rudimentares com pronomes (eu, meu). Estas serão as primeiras relações simbólicas, já que a criança se designa na terceira pessoa; constrói bem uma sequência de três elementos, por exemplo: “neném come pão”, com uma estrutura principal do tipo svs (substantivo-verbo-substantivo); esta fase costuma ser chamada de “fala telegráfica”, pois não aparecem no discurso as principais palavras-função: artigo, preposição, flexão de gênero, número e grau; sabe cantar algumas canções infantis.

Todas as etapas acima mostram um padrão que não pode ser interpretado fielmente. É sempre recomendado buscar orientação de um profissional especializado para avaliar e tratar qualquer problema de fala ou linguagem.

Suelen Libório

  • Pós graduando em intervenção ABA aplicada a TEA.
  • Pós graduada em gerontologia saúde do idoso.
  • ⁠Pós graduada em psicopedagogia
  • ⁠Pós graduada em métodologia do ensino superior

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